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Foi depositado no medRxiv um artigo intitulado "Relationship between the ABO Blood Group and the COVID-19 Susceptibility" [A relação entre grupos sanguíneos ABO e susceptibilidade a COVID-19). O estudo, conduzido por pesquisadores chineses, analisou 2173 pacientes com COVID-19, tratados em três hospitais em Wuhan e Shenzhen.
O que eles fizeram exatamente? Basicamente, eles compararam a distribuição de grupos sanguíneos do sistema ABO da população como um todo, em cada área, com a distribuição de tipos sanguíneos das pessoas cometidas pela COVID-19. Conforme Jacinta Bowler reportou no Science Alert:
"De acordo com o estudo, a população normal em Wuhan tem uma distribuição de tipo sanguíneo de 31% do tipo A, 24% do tipo B, 9% do tipo AB e 34% do tipo O. Os portadores do vírus, em comparação, foram distribuídos da seguinte forma: 38% do tipo A, 26% do tipo B, 10% do tipo AB e 25% do tipo O. Diferenças semelhantes foram observadas em Shenzhen".
Após implementação de métodos de análise, os autores chegaram às seguintes conclusões:
"Pessoas do grupo sanguíneo A têm um risco significativamente maior de adquirir COVID-19 se comparadas com pessoas de grupos não-A, enquanto o grupo sanguíneo O tem um risco significativamente menor de infecção em comparação com grupos não-O."
Devo dizer que "significativamente maior" e "significativamente menor", em se tratando de estatística, não significam, respectivamente "muito maior" e "muito menor". Quer dizer apenas que os resultados são suficientemente diferentes do que deveríamos observar se o tipo/grupo sanguíneo não exercesse influência alguma. No presente caso, basta você comparar a distribuições de tipo sanguíneo entre pessoas doentes e saudáveis (no que diz respeito a COVID-19) e ver que não há exatamente um abismo entre as proporções. Muito pelo contrário.
Na discussão do artigo, os autores comentam o seguinte:
Na discussão do artigo, os autores comentam o seguinte:
"Neste estudo, nós descobrimos que os grupos ABO exibem diferentes associações de risco para infecção com SARS-CoV-2 resultando em COVID-19. Especificamente, o grupo sanguíneo A foi associado com um aumento no risco, enquanto o grupo sanguíneo O foi associado com um decréscimo no risco, assim demonstrando que o tipo sanguíneo ABO é um biomarcador para susceptibilidade diferencial a COVID-19. Essas descobertas são consistentes com padrões de risco similares de grupos sanguíneos ABO para outras infecções por coronavírus estabelecidos em outros estudos. Por exemplo, Cheng et al. reportaram que a susceptibilidade de infecção por SARS-CoV em Hong Kong era diferencial com relação aos sistemas de grupos sanguíneos ABO. Os autores descobriram que, comparados com funcionários de hospital de grupos não-O, os funcionários de hospital do grupo sanguíneo O tinham menores chances de ser infectados. Patrice et al. descobriram que anticorpos anti-A inibiam especificamente a adesão de células que expressavam proteína S do SARS-CoV a linhagens de células que expressavam ACE2. Dada a similaridade na sequência de ácidos nucleicos e na ligação ao receptor enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) entre SARS-CoV e SARS-CoV-2, a menor susceptibilidade do grupo sanguíneo O e maior susceptibilidades do grupo sanguíneo, no que diz respeito a COVID-19, poderiam estar ligadas a presença de anticorpos anti-grupo-sanguíneo, particularmente anticorpos anti-A, no sangue. Essa hipótese necessita de estudos diretos para ser provada. Pode haver também outros mecanismos subjacentes a susceptibilidade diferencial dos grupos sanguíneos ABO a COVID-19, que requerem estudos adicionais para elucidação."
Algo que é importante de ressaltar é que o "risco" a que os pesquisadores se referem na verdade trata-se do risco de precisar de hospitalização devido a COVID-19, não o risco de ser infectado pelo vírus. A razão disso é que os pacientes avaliados no estudo foram somente aqueles que desenvolveram sintomas intensos o suficiente ao ponto de buscar um hospital.
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Vale ressaltar, ainda, que o estudo, no momento em que escrevo, aguarda revisão por pares e, portanto, ainda não foi publicado. Inclusive, alguns pesquisadores expressam algumas suspeitas quanto às conclusões do estudo (veja aqui, por exemplo). Além disso, não há motivos para desespero se você é do grupo A. Nem de relaxo, se você é do grupo O.
O que o estudo preliminar aponta é que há alguma diferenciação no risco de hospitalização e evolução da doença no que diz respeito ao sistema ABO para tipos sanguíneos. Não é tudo ou nada, 0 ou 1. Vários fatores podem influenciar no desenvolvimento e curso da COVID-19.
Mais importante que isso, o tipo sanguíneo não determina se você vai ou não contrair o SARS-CoV-2. Portanto, faça um favor a si mesmo(a), fique em casa e tome as precauções necessárias.
O que o estudo preliminar aponta é que há alguma diferenciação no risco de hospitalização e evolução da doença no que diz respeito ao sistema ABO para tipos sanguíneos. Não é tudo ou nada, 0 ou 1. Vários fatores podem influenciar no desenvolvimento e curso da COVID-19.
Mais importante que isso, o tipo sanguíneo não determina se você vai ou não contrair o SARS-CoV-2. Portanto, faça um favor a si mesmo(a), fique em casa e tome as precauções necessárias.
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