Ao longo da
última década tem ficado cada vez mas claro que nem todos os dinossauros
foram extintos há 65 milhões de anos. As aves estão aí, e elas
pertencem ao mesmo clado que os dinossauros, Archosauria, répteis que
possuem dentes situados em encaixes nos ossos da mandíbula, crânio com
uma abertura entre as órbitas e as narinas (fenestra anterorbital) e um
coração com quatro câmaras [1]. Sem dúvida, para muitas pessoas, essa é
uma novidade e tanto. Mas não para por aí.
Figura 1. Sciurumimus albersdoerferi. Um pequeno Megalossauroide.
Novas
descobertas têm sugerido que uma das características antes consideradas
exclusivas das aves, as penas, são muito mais difundidas entre os
dinossauros do que se pensava antes. E esse animal da foto é uma
evidência disso. O Sciurumimus albersdoerferi (figura 1), encontrado em
depósitos de calcário do norte da Bavaria, Alemanha, viveu no Jurássico
Superior e tem uma posição filogenética bastante interessante. Dentro de
Archosauria, as aves fazem parte de um grupo de dinossauros terópodes
chamado de Coelurosauria (ver a figura 2). Por outro lado, o Sciurumimus
foi identificado como um membro de Megalosauridea (ver figura 2).
Figura 2. Um cladograma geral de Tetanure, um grupo de dinossauros terópodes. Observe bem onde se situam Coelurosauria e Megalosauroidea.
A figura 2
capta bem o teor da descoberta. Ela nos diz (1) que o Sciurumimus não é
um coelurosauro e que (2) os Coelurosauria (e as aves, portanto) são
mais relacionados a Allosauroidea do que a Megalosauroidea; (3) Como o
Sciurumimus demonstra claras evidências de um ter sido recoberto por
plumagem, então isso demonstra que as penas, ainda que nos seus estágios
iniciais de evolução, surgiram antes do que se imaginava e, assim
sendo, são mais comuns entre os dinossauros não-avianos do que antes se
imaginava.
Nas palavras de Oliver Rauhut, um dos autores do paper descreveu o Sciurumimus (Proceedings of National Academy of Sciences, 2 de julho de 2012):
“Todos
os dinossauros emplumados predadores até então conhecidos representam
parentes próximos das aves. O Sciurumimus é muito mais basal dentro da
família dos dinossauros e, assim, indica que todos os dinossauros
predadores tinham penas” [2].
Além dessa
importante constatação, a descoberta tem outras implicações. O fóssil é
de um indivíduo juvenil (megalosauros adultos podiam alcançar 6 metros
de comprimento, mas o Sciurumimus media cerca de míseros 70 cm de
comprimento. Os pesquisadores puderam confirmar algumas hipóteses. Entre
elas:
“Por
algum tempo, tem-se sugerido que o estilo de vida de um dinossauro
predador mudava consideravelmente durante seu crescimento”, disse Rauhat. ”
O Sciurumimus mostra uma diferença notável em relação à dentição dos
megalosauros adultos, o que claramente indica que ele tinha uma dieta
diferente” [2].
A seguir, algumas imagens que melhor evidenciam as plumas do Sciurumimus.
Figura
3. Preservação de tecido mole na região anterior da cauda do
Sciurumimus, sob radiação UV. C, vértebra caudal; fi, filamentos; fo,
possível folículos na base dos filamentos.; s, pele. (escala da barra:
10 mm.)
Figura
4. Curtos filamentos no flanco ventral da cauda, abaixo das 12ª e 13ª
vértebras caudais. As setas e pontas de seta indicam filamentos simples.
Figura
5. Secção mediocaudal anterior com longos filamentos dorsais(seta
branca superior), pele preservada (trecho amarelo), e finos filamentos
no flanco ventral lateral da cauda (setas brancas inferiores).
Referências
[1] – Mayr, G. Avian Evolution: The Fossil Record of Birds and its Paleobiological Significance. Wiley-Blackwell, 2016.
[2] – American Museum of Natural History. “Newly
discovered dinosaur implies greater prevalence of feathers; Megalosaur
fossil represents first feathered dinosaur not closely related to birds.” ScienceDaily. ScienceDaily, 2 July 2012. <www.sciencedaily.com/releases/2012/07/120702210225.htm>
Figs 1, 3, 4 e 5 – Oliver W. M. Rauhut, Christian Foth, Helmut Tischlinger, and Mark A. Norell. Exceptionally preserved juvenile megalosauroid theropod dinosaur with filamentous integument from the Late Jurassic of Germany. Proceedings of the National Academy of Sciences, July 2, 2012 DOI: 10.1073/pnas.1203238109.
Fig 2 -Brusatte, Stephen. Dinosaur paleobiology. Figura 4.8. Wiley-Blackwell, 2012.
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