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Capa. Erythrovenator jacuiensis caçando um cinodonte, por Márcio L. Castro. |
Os estratos do Triássico Superior do Brasil são
verdadeiros monumentos da história evolutiva inicial dos dinossauros, pois lá
são encontrados alguns dos mais antigos dinossauros do mundo. No Brasil, há
considerável diversidade de sauropodomorfos do Triássico Superior. Por outro
lado, a situação é bem mais precária para os terópodes. O Nhamdumirim
waldsangae é considerado por alguns autores como sendo um terópode do
Carniano (uma idade da época Triássico Superior, ~237 a ~227 milhões de anos
atrás), mas outros discordam, argumentando que se trata, na verdade, de um
sauropodomorfo. Da idade seguinte, Noriano (~227 a 208.5 milhões de anos atrás),
talvez Guaibasaurus candelariensis seja um terópode, mas não há consenso.
Ele já foi, por exemplo, recuperado como sendo um sauropodomorfo. Há outro
material possivelmente de terópode Noriano; uma porção distal de fêmur esquerdo.
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Figura 1. Sítio Niemeyer, por Janaína Brand-Dillmann. |
É nesse contexto que entra em cena mais uma contribuição do paleontólogo do CAPPA/UFSM, Rodrigo T. Müller. Nesse novo artigo, Müller descreveu e analisou a posição filogenética de um espécime fragmentário de dinossauromorfo (que já havia sido brevemente descrito e discutido na literatura; ver Pavanatto et al, 2018) particularmente interessante. Trata-se de uma porção proximal de fêmur (o esquerdo, no caso), provavelmente do Noriano, embora uma idade Carniana não possa ser descartada. O material foi coletado no Sítio Niemeyer (fig. 1), no município de Agudo, Rio Grande do Sul, Brasil. Embora muito fragmentário, o estudo atribui o material a uma nova espécie de dinossauro terópode, que foi batizada de Erythrovenator jacuiensis (capa, acima).
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Figura 2. Erythrovenator jacuiensis, o "caçador vermelho do Rio Jacuí", por Márcio L. Castro. |
O nome genérico, “Erythrovenator”, significa “caçador vermelho/avermelhado”. O adjetivo vermelho/avermelhado foi escolhido por causa do tom avermelhado do holótipo (= espécime com base no qual a espécie foi descrita e nomeada). O epíteto “jacuiensis” é uma referência ao Rio Jacuí, cujo curso passa por Agudo. O “caçador vermelho do Rio Jacuí” teria cerca de 2 metros de comprimento e 9 quilogramas (fig. 2). Embora não conheçamos dentes ou material craniano dessa espécia, como os dinossauros terópodes mais primitivos eram carnívoros, supõe-se que o Erythrovenator jacuiensis também se alimentava de carne.
E o que sugere que seja um terópode? Erythrovenator
tem um trocânter anterior bem desenvolvido. A porção proximal desse trocânter (fig. 3) é
triangular em vista anterior (algo tipicamente presente nos dinossauros
neoterópodes). Adicionalmente, a porção proximal do trocânter anterior se
separa do corpo do fêmur por uma fenda bem marcada (fig. 4), como no caso dos
dinossauros terópodes (mas também alguns silessaurídeos). Diz-se, portanto, que um trocânter anterior com essa
conformação tem forma piramidal. Nos sauropodomorfos, como Saturnalia e Pampadromaeus,
a ponta proximal do trocânter anterior se separa do corpo do fêmur por uma
fenda menos expressiva, isso quando a conexão com o corpo não é completa. O
trocânter anterior se estende medialmente, formando uma plataforma, unicamente
presente em terópodes. A análise filogenética corrobora a inclusão da nova
espécie dentro de Theropoda. Os valores estatísticos que dão suporte a essa
hipótese, contudo, são relativamente baixos.
Müller encerra sua contribuição ressaltando que “o reconhecimento de potenciais sinapomorfias [dos terópodes], como um trocânter anterior com forma piramidal, nos ajuda a identificar espécimes fragmentários em níveis menos inclusivos, lançando luz sobre as nossas mais antigas faunas de dinossauros.”
Para saber mais:
Rodrigo T. Müller. A
new theropod dinosaur from a peculiar Late Triassic assemblage of southern
Brazil, Journal of South American Earth Sciences, 2020, 103026, ISSN 0895-9811.
https://doi.org/10.1016/j.jsames.2020.103026.
PAVANATTO, Ane Elise Branco et al. A
new Upper Triassic cynodont-bearing fossiliferous site from southern Brazil,
with taphonomic remarks and description of a new traversodontid taxon. Journal
of South American Earth Sciences, v. 88, p. 179-196, 2018.
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