Introdução
Este é mais um roteiro da série “Animais Fantásticos Que Não Mais Habitam”.
Ele vai estar numerado como número 6 (clique aqui para assistir) porque resolvi colocar outros vídeos
antigos na playlist dessa série, uma vez que eles são dedicados a tratar de
animais (fantásticos) extintos específicos. Vamos nessa!
O
animal fantástico
Hoje nós vamos falar de
um bicho que viveu no período Triássico. Ele foi descrito em 2017 e é bastante
bizarro. Por isso ele está aqui nessa série. Apresento-lhes o gado do Triássico
Médio, Shringasaurus indicus!
Etimologia
(Sengupta et al. 2017)
‘Śṛṅga’ (Shringa), em sânscrito antigo, significa “chifre”; ‘sauros’ (σαῦρος),
em grego, significa lagarto; ‘indicus’, latinização de “indiano”, uma vez que
os fósseis foram encontrados na Índia. Sendo assim, Shringasaurus
indicus significa algo como “lagarto-de-cifres indiano”.
Holótipo
(Sengupta et al. 2017)
O holótipo é o
ISIR-780, que consiste de ossos da parte de cima do crânio (pré-frontal,
frontal, pós-frontal e parietal) com um chifre supraorbitário (acima da órbita).
Materiais
referidos (Sengupta et al. 2017)
Parátipos*: ossos
cranianos e pós-cranianos pertencentes a pelo menos sete indivíduos de
diferentes idades, todos coletados numa área de 5mx5m.
*Parátipo é um espécime que, apesar de não ser o holótipo, é usado na descrição de uma
espécie nova.
Figura
2.
Holótipo (e), parátipos,
reconstrução (a, c) e comparação do crânio. Nas imagens
d-f um dos lados foi espelhado digitalmente. Sengupta et al. 2017.
Figura
3.
Parátipos e reconstrução. Sengupta et al.
2017.
Localidade-tipo
(Sengupta et al. 2017)
Os fósseis foram
coletados nas proximidades do vilarejo Tekapar, no distrito Hoshangabad, que
fica no Estado de Madhya Pradesh, na Índia.
Figura
4.
Localização dos fósseis. Sengupta et al. 2017.
Contexto geológico (Sengupta et al. 2017)
Os estratos geológicos
contendo os fósseis situam-se na Formação Denwa, datados do começo do Triássico
Médio, correspondendo ao Anisiano (247.2–242 milhões
de anos). Portanto, são anteriores aos mais antigos dinossauros conhecidos, que
são do Carniano (237–227 milhões de anos).
Características
diagnósticas (Sengupta et al. 2017)
Animal relativamente
grande, atingindo 3 ou 4
metros de comprimento. A característica diagnóstica mais
conspícua dos Shringasaurus é,
adivinhe você, a presença de um par de cifres supraorbitários subcônicos que se
projetam anterodorsalmente, algo similar a alguns dinossauros ceratopsídeos.
Sistemática
Archosauromorpha Huene, 1946:
Grupo
formado pelos répteis da linhagem dos arcossauros – linhagem das aves e
linhagem dos crocodilianos – e formas afins.
Allokotosauria
Nesbitt et al., 2015:
Um grupo de
estranhos répteis herbívoros do Triássico Médio conhecidos da Ásia, África,
América do Norte e Europa.
Azendohsauridae
Nesbitt et al., 2015:
Família de
allokotossauros que inclui os gêneros Shringasaurus e Azendohsaurus e possivelmente outros representativos triássicos.
Figura
6.
Relações filogenéticas entre arcossauromorfos. Sengupta et al. 2017.
Paleobiologia
(Sengupta et al. 2017; Sengupta 2018)
Como eu disse
anteriormente, foram encontrados diversos indivíduos dessa espécie, em
diferentes estágios do desenvolvimento ontogenético, ou seja, uns mais novos,
outros mais velhos. Assim, é possível observar que havia uma tendência conforme
o indivíduo envelhecia: os chifres tornavam-se maiores e mais robustos.
Esses chifres robustos,
subcônicos, não ramificados, são encontrados em diversos amniotas e servem como
sinal de qualidade individual e armas para lutas intraespecíficas, isto é, em
combate com indivíduos da mesma espécie, geralmente machos disputando uma fêmea.
Então, é possível que a evolução desses chifres, que ocorreu independentemente
várias vezes, se tenha se dado por seleção sexual atuando sobre o desempenho
dessas armas em combates e dispositivos de sinalização individual.
É possível, portanto, que os Shringasaurus
fossem dotados de chifres por essas razões. Aliás, pelo menos (Fig. 1g) um dos
espécimes encontrados nessa assembleia de fósseis de Shringasaurus possuía ossos frontais sem chifres, indicando aí um
possível dimorfismo sexual. E dimorfismo sexual geralmente é atribuído à
seleção sexual.
Não bastasse a convergência com dinossauros ceratopsídeos, os Shringasaurus também exibem algum grau
de convergência com dinossauros sauropodomorfos, como a forma dos dentes
marginais, os quais são sugestivos de herbivoria.
Figura 7. Dente de Azendohsaurus. Os
dentes dos Shringasaurus são
similares. By Martín D. Ezcurra - The phylogenetic relationships of basal
archosauromorphs, with an emphasis on the systematics of proterosuchian
archosauriforms. (2016) PeerJ 4:e1778 https://peerj.com/articles/1778/, CC BY
4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=72302020
Sendo assim, os Shringasaurus
devem cumprido o papel ecológico de grandes consumidores primários, papel este
que, antes da descoberta dessa espécie, acreditava-se ter sido restrito, no que
diz respeito ao paleozoico, começo e meio do Triássico, aos sinapsidos.
Em 2018, Sengupta, um dos pesquisadores que descreveu o Shringasaurus, reportou que um dos
espécimes, um adulto, possuiu um par de vértebras cervicais aberrantes,
parcialmente fusionadas – uma paleopatologia. Essas vértebras podem ter ficado
assim devido a uma má formação, espondiloartropatia (um tipo de artrite) ou
como resultado de uma infecção bacteriana ou fúngica no disco intervertebral.
Aparentemente essa patologia não afetou muito o animal, uma fez que ele viveu
até a idade adulta.
Paleoecologia (Sengupta et al. 2017)
Na formação Denwa já foram encontrados diversos vertebrados. Por
exemplo: Ceratodus sp.
(peixe-pulmonado), Paracyclotosaurus
crookshanki e Cherninia denwai, ambos da linhagem dos anfíbios, além de
rincossauros e dicinodontes.
Encerramento
E aí, o que achou desse
episódio da série? Deixe sua opinião aí na aba de comentários. Não se esqueça
de curtir (o vídeo) e compartilhar para dar aquela força ao canal! Até o próximo
episódio!
Para
saber mais
SENGUPTA, Saradee; EZCURRA, Martín D.; BANDYOPADHYAY, Saswati.
A new horned and long-necked herbivorous stem-archosaur from the Middle
Triassic of India. Scientific reports, v. 7, n. 1, p. 8366, 2017.
NESBITT, Sterling J. et
al. Postcranial osteology of Azendohsaurus madagaskarensis (? Middle to Upper
Triassic, Isalo Group, Madagascar) and its systematic position among stem
archosaur reptiles. Bulletin of the American Museum of Natural History,
v. 2015, n. 398, p. 1-126, 2015.
SENGUPTA, Saradee. Fusion
of cervical vertebrae from a basal archosauromorph from the Middle Triassic
Denwa Formation, Satpura Gondwana Basin, India. International journal
of paleopathology, v. 20, p. 80-84, 2018.
Wikipedia contributors.
(2020, January 5). Shringasaurus. In Wikipedia, The Free Encyclopedia.
Retrieved 23:32, January 15, 2020, from https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Shringasaurus&oldid=934319375
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