quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Mais de 29 evidências para a Macroevolução - introdução

Introdução

A evolução, o abrangente conceito que unifica as ciências biológicas, na verdade compreende uma pluralidade de teorias e hipóteses. Nos debates sobre evolução se ouve falar da evolução como grosseiramente dividida entre os termos “microevolução” e “macroevolução”. Microevolução, ou mudança abaixo do nível de espécie, pode ser entendida como mudanças de escala relativamente pequenas na constituição funcional e genética de populações de organismos. Não é discutido pelos críticos da evolução que isto ocorre e tem sido observado. O que é vigorosamente desafiado, entretanto, é a macroevolução. A macroevolução é evolução em “grande escala”, resultando na origem de táxons superiores. Para a teoria evolutiva, macroevolução envolve ancestralidade comum, descendência com modificação, especiação, a relação genealógica de toda a vida, transformação de espécies e mudanças funcionais e estruturais em grande escala em populações através do tempo(Freeman and Herron 2004; Futuyma 1998; Ridley 1993).

A ancestralidade comum universal é uma teoria descritiva geral que diz respeito às origens genéticas dos organismos vivos (mas não a própria origem da vida). A teoria especificamente postula que toda a biota conhecida da Terra é genealogicamente relacionada, mais ou menos da mesma maneira que irmãos ou primos estão relacionados uns com os outros. Assim, a ancestralidade comum universal implica a transformação de uma espécie em outra e, consequentemente, a história e processos macroevolutivos que envolvem a origem de táxons superiores. Porque é tão bem apoiada cientificamente, a ancestralidade comum é muitas vezes chamada pelos biólogos de “fato da evolução”. Por estas razões, os defensores da criação especial são especialmente hostis ao fundamento macroevolutivo das ciências biológicas.

Este artigo aborda diretamente a evidência científica em favor da ancestralidade comum e da macroevolução. Este artigo destina-se especificamente para aqueles que são cientificamente atentos, mas, por uma razão ou outra, acreditam que a teoria macroevolutiva explica pouco, faz poucas ou nenhuma predição testável, é infalsificável ou não tem sido cientificamente demonstrada.

O que é a Ancestralidade Comum Universal?

A ancestralidade comum universal é a hipótese segundo a qual todos os organismos vivos se relacionam genealogicamente. Todas as espécies gradualmente originaram-se por processos biológicos e reprodutivos numa escala de tempo geológica. Os organismos modernos são descendentes genéticos de uma espécie original antiga (amplamente definida como uma população comunal de organismos que trocam material genético). A “gradualidade” genética, um termo muito mal entendido, é um modo de mudança biológica que é dependente de fenômenos populacionais; não é uma afirmação sobre a taxa e tempo da evolução. Eventos verdadeiramente geneticamente graduais são mudanças dentro do alcance da variação biológica esperada entre duas gerações consecutivas. As mudanças morfológicas podem parecer rápidas, geologicamente falando, ainda que sejam geneticamente graduais. (Darwin 1872, pp. 312-317; Dawkins 1996, p.241; Gould 2002, pp. 150-152; Mayr 1991, pp. 42-47; Rhodes 1983). Embora gradualidade não seja um mecanismo de mudança evolutiva, ele impõe restrições severas em possíveis eventos macroevolutivos. Do mesmo modo, a exigência de gradualidade necessariamente restringe os possíveis mecanismos de descendência comum e adaptação, discutidos brevemente abaixo.

A Ancestralidade Comum Pode Ser Testada Independentemente de Teorias Mecanicistas
Neste ensaio, a ancestralidade comum universal é isolada e especificamente considerada e ponderada de acordo com a evidência científica. No geral, as teorias “microevolutivas” separadas não consideradas. As teorias microevolutivas são mecanismos explicativos gradualistas que os biólogos usam para explicar a origem e a evolução das adaptações macroevolutivas e da variação. Estes mecanismos incluem conceitos como seleção natural, deriva genética, seleção sexual, evolução neutra e teorias de especiação. Os fundamentos da genética, biologia do desenvolvimento, biologia molecular, bioquímica e geologia são assumidos como fundamentalmente corretos — especialmente aqueles que não se objetivamente a explicar a adaptação. No entanto, se as teorias microevolutivas são suficientes para explicar as adaptações macroevolutivas, é uma questão que é deixada em aberto.
Portanto, a evidência para a ancestralidade comum aqui discutida é independente de mecanismos explicativos gradualistas específicos. Nenhuma das dúzias de predições diretamente se dirigem a como a macroevolução ocorreu, como nadadeiras foram transformadas em membros, como o leopardo ganhou suas manchas, ou como o olho dos vertebrados evoluiu. Nenhuma evidência reportada aqui assume que a seleção natural é válida. Nenhuma evidência assume que a seleção natural é suficiente para gerar adaptações ou as diferenças entre espécies e outros táxons. Devido a esta independência de evidência, a validade da conclusão macroevolutiva não depende da seleção natural, herança dos caracteres adquiridos, forças vitais, ou qualquer outra coisa como sendo o verdadeiro mecanismo de mudança adaptativa evolutiva. Apesar disso, a defesa científica da ancestralidade comum sustenta-se.

Além disso, porque não faz parte da teoria evolutiva, a abiogênese também não é considerada nesta discussão sobre a macroevolução: a abiogênese é uma hipótese independente. Em teoria evolutiva é tido como axiomático que uma forma de vida original e autorreplicante existiu no passado distante, independentemente de sua origem. Todas as teorias científicas têm seus respectivos domínios explicativos específicos; nenhuma teoria científica propõe explicar tudo. A mecânica quântica não explica a origem final das partículas e da energia, mesmo que nada nessa teoria possa funcionar sem partículas e energia. Nem a teoria de Newton sobre a gravitação universal nem a teoria da relatividade geral tentam explicar a origem da matéria ou da gravidade, mesmo que ambas as teorias não tenham sentido sem a existência a priori da gravidade e da matéria. Da mesma forma, a descendência comum universal é restrita aos padrões biológicos encontrados na biota da Terra; não tenta explicar a origem derradeira da vida.

O que se entende por “Evidência Científica” para a Ancestralidade Comum?

As teorias científicas são validadas por testes empíricos confrontados com observações físicas. As teorias não são julgadas simplesmente pela compatibilidade lógica com os dados disponíveis. A testabilidade empírica independente é a marca registrada da ciência —em ciência, uma explicação não só deve ser compatível com os dados observados, mas também deve ser testável. Por “testável”, queremos dizer que a hipótese faz previsões sobre o que a evidência observável seria consistente e o que seria incompatível com a hipótese. A simples compatibilidade, em si mesma, é insuficiente como evidência científica, porque todas as observações físicas são consistentes com um número infinito de conjecturas não científicas. Além disso, uma explicação científica deve fazer previsões arriscadas — as previsões devem ser necessárias se a teoria for correta, e poucas outras teorias devem fazer as mesmas previsões necessárias.

Como um exemplo claro de hipótese não-científica, não-testável e que é perfeitamente consistente com observações empíricas, considere o solipsismo. A assim chamada hipótese do solipsismo defende que toda a realidade é produto da usa mente. Quais experimentos poderiam ser realizados, quais observações poderiam ser feitas, tais que pudessem demonstrar que o solipsismo está errado? Muito embora consistente com os dados, o solipsismo não pode ser testado por pesquisadores independentes. Toda e qualquer evidência é consistente com o solipsismo. O solipsismo é não-científico precisamente porque nenhuma evidência possível poderia estar em contradição com suas previsões. Para os interessados, foi incluída uma breve explicação do método científico e da filosofia científica, como o que se entende por “evidência científica”, “falsificação” e “testabilidade”.
Na lista de evidências a seguir, 30 das principais predições da hipótese da ancestralidade comum são enumeradas e discutidas. Sob cada ponto está uma demonstração de como a previsão se adequa ao testes biológicos reais. Cada ponto lista alguns exemplos de confirmações evolutivas seguidas de potenciais falsificações. Uma vez que um conceito fundamental gera todas essas previsões, a maioria deles está inter-relacionada. Para que a lógica seja fácil de seguir, as previsões relacionadas são agrupadas em cinco subdivisões separadas. Cada subdivisão tem um parágrafo ou dois apresentando a ideia principal que une as várias previsões nessa seção. Existem várias referências em texto fornecidas para cada ponto. Como se verá, a ancestralidade comum universal faz muitas previsões específicas sobre o que deve e o que não deve ser observado no mundo biológico, e foi bem sucedida contra observações empiricamente obtidas nos últimos mais de150 anos de investigação científica intensa.

É preciso ressaltar que essa abordagem para demonstrar o suporte científico para a macroevolução não é um argumento circular: a verdade da macroevolução não é assumida a priori nesta discussão. Simplificando, a teoria da descendência comum universal, combinada com o conhecimento biológico moderno, é usada para deduzir previsões. Essas previsões são então comparadas ao mundo real para ver como a teoria se mostra à luz das evidências observáveis. Em todos os exemplos, é bem possível que as previsões possam ser contrariadas pela evidência empírica. De fato, se a ancestralidade comum universal não fosse adequada, é altamente provável que essas previsões falhassem. Essas previsões empiricamente validadas apresentam evidências tão fortes para ancestralidade comum precisamente por esse motivo. Os poucos exemplos dados para cada previsão representam as tendências gerais. De modo algum eu pretendo expressar todas as previsões ou potenciais falsificações; há muitos mais por aí a ser descoberto pela alma inquisitiva.

Existem outras explicações cientificamente válidas?

A comunidade mundial de pesquisas científicas dos últimos 150 anos descobriu que, além da ancestralidade universal, nenhuma hipótese conhecida pode explicar cientificamente a unidade, a diversidade e os padrões da vida terrestre. Esta hipótese foi verificada e corroborada tão amplamente que atualmente é aceita como fato pela esmagadora maioria dos pesquisadores profissionais nas ciências biológicas e geológicas (AAAS 1990; AAAS 2006; GSA 2009; NAS 2005; NCSE 2012; Working Group 2001). Nenhuma explicação alternativa compete cientificamente com a ancestralidade comum, principalmente por quatro razões principais: (1) tantas das previsões da ancestralidade comum foram confirmadas em áreas independentes da ciência, (2) nenhuma evidência contraditória significativa ainda foi encontrada, (3) as possibilidades concorrentes foram contraditadas por enormes quantidades de dados científicos, e (4) muitas outras explicações não são aceitáveis, embora possam ser trivialmente consistentes com os dados biológicos.

Ao avaliar as evidências científicas fornecidas nas páginas seguintes, por favor considere explicações alternativas. Mais importante, para cada evidência, considere criticamente quais observações potenciais, se encontradas, seriam incompatíveis com uma dada explicação alternativa. Se não existir, essa explicação alternativa não é científica. Conforme explicado acima, uma hipótese que é simplesmente compatível com certas observações empíricas não pode usar essas observações como evidência científica de apoio.

Referências

American Association for the Advancement of Science (1990) Science for All Americans. http://www.project2061.org/tools/sfaaol/sfaatoc.htm

American Association for the Advancement of Science (2006) Multiple Resolutions Regarding Evolution and Creationism. http://archives.aaas.org/docs/resolutions.php?t_id=54

Darwin, C. (1872) The Origin of Species. Sixth Edition. The Modern Library, New York.

Dawkins, R. (1996) The Blind Watchmaker. New York, Norton.

Feynman, R. P. (1985) QED: The Strange Theory of Light and Matter. Princeton, NJ: Princeton University Press.

Freeman, S. and Herron, J. C. (2004) Evolutionary analysis Third edition. Upper Saddle River, NJ: Pearson/Prentice Hall.

Futuyma, D. (1998) Evolutionary Biology. Third edition. Sunderland, MA: Sinauer Associates.
Geological Society of America (2009) “Evolution.” http://www.geosociety.org/positions/position1.htm

Gould, S. J. (2002) The Structure of Evolutionary Theory. Cambridge, MA: Belknap Press of Harvard University Press.

Mayr, E. (1991) One Long Argument. Cambridge, Harvard University Press.

National Academy of Sciences. (2005) multiple statements. http://nationalacademies.org/evolution/Statements.html

National Center for Science Education. (2012) “Voices for Evolution: Statements from Scientific and Scholarly Organizations.” A compilation of statements from 109 of the world’s largest and most prestigious societies of professional research scientists, on the importance of evolutionary theory. http://ncse.com/media/voices/science

Rhodes, F. H. T. (1983) “Gradualism, punctuated equilibria, and the origin of species.” Nature 305: 269-272.

Ridley, M. (1993) Evolution. Boston: Blackwell Scientific.


Este artigo é uma tradução. Versão original referenciada abaixo.

Theobald, Douglas L. “29+ Evidences for Macroevolution: The Scientific Case for Common Descent.” The Talk.Origins Archive. Vers. 2.89. 2012. Web. 12 Mar. 2012 <http://www.talkorigins.org/faqs/comdesc/&gt;

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